quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

O VELHO SOBREIRO

Alto, ficas de pé, firme e terreal
Olho para ti através da minha janela
Observo-te e descortino a tua vida

Tu já és velho, bem o vejo
O teu tronco tatuado de cicatrizes
Inscritas pelo punho de homens ávidos

És cobiçoso da escura pele que te cobre
Em longos sete anos crias casca e carne
Até chegar o fio do punhal cortante

Opões-te a isto? Não podes falar
No teu silêncio fica um enigma por revelar
Mas eu, eu olho, escuto e amo-te

Que fiques em paz, simplesmente
As tuas folhas para os pássaros
A tua pele para ti mesmo
E a tua beleza toda para mim


Teresa Bell
aluna inglesa no curso nocturno de Português para Estrangeiros

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

A VIAGEM

            O povo português sempre teve uma ligação muito forte com o mar.
            Sendo um país com uma costa extensa, os seus habitantes sempre manifestaram curiosidade em saber o que existia para além daquele imenso azul. E foi essa curiosidade que alimentou o desejo de ir à descoberta de novas terras e novas culturas, resultando, daí, a época aura a que chamamos «os Descobrimentos».
            Tal como Roma, que viu a sua origem e História serem reproduzidas por Virgílio, na Eneida, também Portugal sentia a falta de uma obra que lembrasse e fizesse justiça à glória e ao reconhecimento internacional dos tempos passados. E assim surgiu Os Lusíadas, de Camões, a que muitos chamam «a epopeia desejada».
            Mas o tema das viagens não se estende só ao conceito de viajar. Todos nós viajamos, diariamente, para lugares longínquos e até mesmo inexistentes, lugares que existem apenas nas nossas mentes.
            Quando somos crianças, essas «viagens» são ainda mais frequentes e vivas. À medida que vamos crescendo vamos perdendo essa sensação de que haverá mais alguma coisa para além do que vemos e sentimos.
            Contudo, são essas sensações, essas expectativas, esses sentimentos e emoções que nos distinguem dos outros seres vivos, na Terra.
            Assim, estamos vivos e em viagem permanente.

Leonor Castro – 9º C

PORQUE ESCOLHEMOS PORTUGAL PARA A NOSSA REFORMA

            Ficar na reforma é ter oportunidade para um novo começo de vida e começamos a pensar que viver noutro país poderia ser uma experiência humana e cultural muito enriquecedora.
            A primeira vez que viemos a Portugal, visitámos Lisboa e ficámos apaixonados pela cidade. Depois, regressámos e decidimos. Uma imediata sensação de bem-estar e de harmonia convenceu-nos.
            Adaptar-se, perceber a filosofia de vida deste país, faz parte da nossa aprendizagem. Portugal oferece-nos tanto! Sobretudo, a gentileza dos seus habitantes que nos recebem com tanta benevolência, sempre prontos a ajudarem-nos e aconselharem-nos!
            Aqui vão algumas das coisas que temos descoberto:
            - A cozinha e as suas especialidades: peixes, cozidos, sopas e deliciosas sobremesas.
            - A música: o fado que fala de destino e de vida. Quando se escuta bem, sente-se o coração de um Portugal melancólico mas feliz.
            - A natureza deslumbrante: praias lindas e magnificas, paisagens onde podemos fazer passeios pedestres com panorama espectaculares – campos, árvores, rios ...
            - O património muito rico em igrejas, mosteiros, museus, artesanato e os famosos azulejos que contam cenas da vida de ontem. Também as aldeias onde o passado é ainda presente e onde o tempo parou...
            - Cenas da vida real que se parecem com as pinturas: as mulheres da Nazaré que secam o peixe, os pescadores com pequenos barcos, os agricultores e agricultoras sempre com enxada na mão. Um delas disse-me: “assim era toda a minha vida e e estou feliz no campo!”
            Portugal é um contraste permanente entre tradições e modernidade. É, na Europa, o país onde se sente mais e isto faz parte do seu encanto.
            Nós sentimos uma única dificuldade: perceber e falar português para podermos comunicar e aproveitar ainda mais.
            Mas tivemos sorte! Esta região oferece-nos a possibilidade de aprender a língua, frequentando aulas. Isto é formidável e dá-nos vontade de continuar e ser perseverantes!
Para acabar, cito um provérbio português que li na revista Borda d’ Água: “O que ouço, esqueço/ o que vejo, recordo/ o que faço, compreendo”
            Então, a minha conclusão é: FAÇAM, FAÇAM, FAÇAM!
            E, ainda, uma pergunta:
            - O que podemos fazer em troca? Gostaríamos muito de contribuir, à nossa maneira. Alguém tem uma ideia?
 
Mireille Locatelli
aluna francesa do Curso de Português para Estrangeiros, no ensino nocturno

UM PEQUENO PEDAÇO DE HISTÓRIA UNINDO PORTUGAL E INGLATERRA

            Quando eu e o meu marido comunicámos às nossas famílias que vínhamos morar para Portugal, o meu pai disse-nos que Portugal é o mais antigo aliado da Inglaterra.
            Então, porque me interesso pelas histórias da História, decidi descobrir mais acerca deste assunto.
            É verdade! No ano 1386, Dom João Primeiro de Portugal, o Mestre de Avis, e filho ilegítimo de Dom Pedro Primeiro, e Richard Primeiro da Inglaterra, assinaram um tratado que existe ainda hoje. Este tratado é o mais velho do mundo.
            Para além deste facto, no ano seguinte, Dom João casou-se com Filipa de Lencastre, a neta de Edward Terceiro da Inglaterra. No começo, esse casamento não foi popular nem em Inglaterra nem em Portugal. Os Portugueses não estavam felizes porque o pai da Filipa, já casado com Constança de Castile, teve uma amante pública, Katherine Swynford, de quem teve quatro filhos. Os Ingleses não gostavam de João porque ele era filho ilegítimo e já tinha um filho, Afonso.
            Mas os dois países precisavam deles, por razões politícas.
            Filipa de Lencastre, nascida a 31 Março 1360, teve uma educação muito boa; os professores foram Froissart - que escreveu acerca das cortes medievais; Friar John - um pioneiro da fisica e da química; Geofrey Chaucer - o famoso poeta medieval e um amigo da família; John Wycliffe - um professor do Universidade de Oxford e o primeiro tradutor da Biblia para Inglês. Mais ainda, ela também leu muitos dos eruditos gregos e romanos, tais como Plínio e Herodotus; tudo isto muito insólito, para uma a mulher no século XIV!
            No ano de 1387, Filipa de Lencastre tinha 27 anos; muito velha para uma mulher que não era casada! Ela não era linda mas ela tinha um sentido de justiça muito forte. Depois do seu casamento, esta última característica foi muito útil e Filipa teve uma influência profunda no Rei e na corte de Portugal. Após o famoso incidente com uma criada, na Sala das Pagas, no palácio da Sintra, acreditamos que João era completamente fiel à sua rainha (facto muito insólito para este época!). Podemos concluir que esta associação, inicialmente apenas de carácter político, tornou-se num casamento muito durável e bem-sucedido!
            Tiveram nove filhos: seis filhos e três filhas. Todos os seus filhos, masculinos e femininos, foram bem-educados. Os seis filhos que sobreviveram formaram ‘a enclítica geração’. Eles foram:
Infante Dom Duarte, nascido a 31 Outobro de 1391. (Rei Duarte 1)
Infante Dom Pedro, nascido a 9 Dezembro de 1392 (Um escritor famoso)
Infante Dom Henrique, nascido a 4 Março de 1394 (O famoso navegador)
Dona Isabel, nascido a 11 Fevreiro de 1397 (casou com o Duque de Burgundy)
Infante Dom João, nascido a 13 Janeiro de 1400 (O Grão Mestre da ‘Ordem de Santiago’)
Infante Dom Fernando, nascido a 29 Setembro de 1402 (O Mártir. Ele ofereceu-se aos marroquinos como refém e morreu, ainda cativo, em Fez, no ano de 1443)
            Dos três filhos restantes, Dona Branca, a mais velha, morreu quando era bebé; Dom Afonso, o herdeiro, morreu quando tinha 10 anos, e não sabemos nada acerca de Dona Beatriz, a criança mais jovem que também morreu na infãncia.
            Filipa de Lencastre morreu de peste, no dia 16 Julho, no ano de 1415 mas antes da sua morte, ela deu a cada um dos seus filhos, Duarte, Pedro e Henrique, uma espada com muitas jóias e a sua bênção para a expedição que iriam fazer para conquistar Ceuta.
            Ela e o seu marido estão enterrades no Mosteiro de Batalha, na Capela do Fundador, com os seus quatros filhos mais jovens, inclusive Henrique, o Navegador.
            Por tudo isto, ficámos a saber que a amizade entre Portugal e a Inglaterra é muito velha! Talvez seja esta uma das razões pela qual os visitantes Ingleses são muito bem-vindos em Portugal!

Teresa  Bell
aluna inglesa do curso nocturno de Português para estrangeiros

INFINITAS VIGENS

            Desde tempos muito antigos que os homens sentem necessidade de conhecer melhor o seu mundo, esse mundo que poucos têm coragem de enfrentar, Porém, encontramos grandes homens que tiveram essa força e determinação, nomeadamente aqueles que o fizeram através do mar.
            Mar: o mar que fascina qualquer um, ao primeiro olhar e que seduziu até as mentes mais perspicazes com canções trazidas por uma brisa longínqua, que sussurrava aos seus ouvidos, chamando-os para nele se aventurarem! E os homens que ouviram esse chamamento aventuraram-se, na esperança de encontrarem algo novo.
            Em viagens feitas em pequenas e grandes embarcações e conforme o balanço do mar, o homem ia descobrindo cada vez mais, sobre si mesmo e sobre o que o rodeava. Cedo chegou à conclusão que a Terra, o mundo onde vivia, não é mais do que a extensão do seu ser e que tudo isso o completava, física e mentalmente.
            Têm sido escritos muitos textos e livros sobre estes temas, sobre o tema da viagem. Todos esses estudos foram importantíssimos para demonstrar o trabalho árduo que muitos homens tiveram, por esse mar fora, uma tarefa que muitos não conseguiram completar, deixando os seus corpos e almas nas profundezas dos oceanos.
            O mar levou a mente dos homens a evoluir, tornando-os mais completos, com novas expectativas para o futuro, fazendo do mundo o lugar que hoje é.
            Um dia, far-se-á outra misteriosa viagem, não neste mundo mas deste mundo para o outro. Aí, a mente do homem talvez possa continuar a transformar-se e a evoluir, pois a vida do homem é uma viagem infinita.

Francisco Marciano Milhanas  - 9ºC