A
rapariga e a grande muralha da China
Há muitos séculos atrás,
houve um rei que tinha um poder absoluto, dominando os seus povos com grande
autoridade.
Este rei era muito ambicioso. A
sua maior ambição era conquistar todos os países à volta do seu reino. Para conseguir
atingir os seus objetivos, ele pensou numa estratégia poderosa: construir uma
grande muralha, para cercar todos os territórios subjugados.
Assim, ele deu início a este
trabalho. Enviou os seus soldados a todas as vilas e aldeias com uma ordem:
todos os homens válidos deviam deixar as suas famílias e apresentarem-se para
levantarem a grande muralha.
A construção começou em
força. Milhares de homens-escravos trabalhavam de noite e de dia, carregando
pedra, partindo pedra, colocando pedra sobre pedra. Os dias não tinham fim e a
muralha crescia devagar, devagarinho...
O rei não estava satisfeito
com a situação e enviou, de novo, os seus soldados às aldeias para encontrarem
mais gente para a grande empresa.
Todos os homens adultos que
não conseguiram esconder-se foram levados à força para a grande construção. Com
mais gente a trabalhar, esperava o Rei que a sua muralha pudesse avançar mais
rapidamente.
Naquela época, numa pequena
aldeia de China, uma velha, mais uma vez e como todos os anos, plantou abóboras
na sua horta, pensando nas sopas deliciosas que iria saborear, no inverno
seguinte. As plantas cresceram bem, mas, para sua surpresa, uma das aboboreiras,
cresceu com a forma de uma serpente. Ágil e forte, a haste principal ficou
repleta de folhagem e, rapidamente, passou por cima do muro de pedra que
separava a sua horta da horta do seu velho vizinho. Este ficou a ver as
abóboras amadurecerem na sua horta e, na altura certa, sem se importar com a
origem da fortuna, decidiu colher a melhor das abóboras. Cortou a haste e abriu-lhe
a casca forte, de cor alaranjada. Nesse momento, viu que uma linda jovem estava
adormecida no seu interior. O velho ficou muito feliz, e contou este
acontecimento aos vizinhos. Porém, a velha que plantou a abóbora entrou em
conflito com o velho, exigindo que ele lhe entregasse a rapariga. A velha
dizia:
– Fui eu que plantei a abóbora, por isso ela é
minha.
O velho
replicava:
– A abóbora cresceu na minha horta, por isso é
minha a rapariga. Eles brigaram três dias e não se viu nenhum resultado.
Depois, os vizinhos ajudaram a resolver o assunto e os dois velhos decidiram
que a jovem misteriosa pertenceria aos dois.
Como o tempo voa, a jovem chegou
rapidamente à idade de casar. Os velhos escolheram-lhe um genro que era um rapaz
simpático, bonito e diligente. E decidiu-se o dia do casamento.
Na noite de núpcias, depois
dos rituais de casamento, a noiva estava sossegada no seu quarto e esperava
ansiosa pela entrada do noivo. Estava muito bela. Envolviam-na as sedas
vermelhas do seu vestido de noiva. A cabeça estava coberta pelo véu nupcial,
que seria retirado quando o noivo entrasse no quarto. Quando ele chegou e abriu
a porta do quarto devagarinho. Olhou para a sua maravilhosa mulher e imaginou
que iriam ser muitos felizes. Aproximou-se dela e, delicadamente, começou a levantar
o véu, emocionado com a alegria de descobrir a pureza do seu rosto.
Nesse preciso momento, um
grupo de soldados invadiu o pequeno quarto. Capturaram o noivo indefeso. Ele
não compreendia o que se passava e procurou resistir. Mas os soldados
prenderam-no sem dificuldade. Na aflição, noiva pegou na mão do noivo e pediu
aos soldados para não o capturarem. Caiam as lágrimas pelo belo rosto da noiva.
Os duros corações dos soldados comoveram-se e também acharam que esta situação
era lastimável. Mas não podiam dar ouvidos aos seus corações, não tinham poder,
tinham de cumprir as ordens. E levaram o noivo cativo.
No dia seguinte, a noiva soube
as razões desta captura inesperada. O Rei estava a construir uma muralha. Todos
os homens adultos deviam ajudar. Os trabalhos não podiam parar e todos eram
poucos. De noite e de dia, era preciso não parar e os que morriam eram logo
substituídos por outros. A construção da muralha obrigava o Rei a enviar os
seus soldados a todas as aldeias do reino para capturarem mais homens, sempre
mais, sempre mais …
E passou mais de um ano. O
noivo continuava sem voltar. A noiva, ansiosa, falou com os velhos e decidiu ir
procurá-lo.
Antes da partida, ela
preparou boas comidas, costurou um casaco novo para o noivo e meteu-se ao
caminho. Onde seria a tal muralha? Ela não sabia mas, passo a passo, foi
procurando o caminho que se desenrolava entre montes e vales.
Um ano, dois anos... No
terceiro ano a noiva encontrou uma pequena aldeia e perguntou ao seu chefe:
– Como é que posso ir para a
muralha?
O chefe disse:
– Desde aqui, sempre para sul. Se
vais a pé, demorarás mais ou menos três meses.
A noiva descansou apenas um minuto
e seguiu viagem.
Passaram os três meses,
rapidamente. Num certo dia, a rapariga avistou o que lhe pareceu uma grande
serpente, mas era a grande construção, vista de longe. O seu coração sentiu uma
grande tristeza. Continuou até encontrar alguém que conhecesse o seu jovem
marido.
– Viste o meu noivo? Ele é...
A noiva contava como era o
seu noivo.
Um dia, um dos chefes da
construção respondeu-lhe:
– O seu noivo já morreu, há três
anos.
A noiva ouviu e pareceu não ter
compreendido. Em silêncio, devagarinho... começou a chorar. Então, o céu ficou
nublado e começou a chover. Uma enorme e estranha trovoada caía sobre a
muralha. O chefe viu o que se estava a passar e foi a correr contar ao Rei. A
tempestade não parava e o Rei foi ver o que estava a acontecer. A sua muralha estava
a ser destruída. O Rei ficou muito zangado, porque eram as lágrimas da rapariga
que estavam a provocar toda aquela desgraça. Mandou que fossem buscá-la e a
trouxessem à sua presença. Porém, quando ele viu a beleza do rosto da jovem,
mudou de opinião. Logo ali, quis que a jovem se tornasse sua rainha. Mas, para
isso, a noiva requereu uma condição: que procurassem, primeiro, o corpo do
noivo e se fizesse o seu funeral. O Rei aceitou.
Depois do funeral, a noiva ficou a
chorar três dias, em frente ao sepulcro do noivo. No quarto dia, ela fez outro
pedido ao Rei. Queria subir ao ponto mais alto da muralha, lá onde ela mais se
elevava sobre o abismo da montanha. O Rei, submisso à paixão que sentia pela
rapariga, consentiu.
E
quando a viram despenhar-se lá do alto, todos souberam que a futura rainha tinha
ido ao encontro do seu único noivo.
Li Te, 8º Ano, PLNM
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