quinta-feira, 10 de janeiro de 2013


A rapariga e a grande muralha da China
 

Há muitos séculos atrás, houve um rei que tinha um poder absoluto, dominando os seus povos com grande autoridade.
        Este rei era muito ambicioso. A sua maior ambição era conquistar todos os países à volta do seu reino. Para conseguir atingir os seus objetivos, ele pensou numa estratégia poderosa: construir uma grande muralha, para cercar todos os territórios subjugados.
Assim, ele deu início a este trabalho. Enviou os seus soldados a todas as vilas e aldeias com uma ordem: todos os homens válidos deviam deixar as suas famílias e apresentarem-se para levantarem a grande muralha.
A construção começou em força. Milhares de homens-escravos trabalhavam de noite e de dia, carregando pedra, partindo pedra, colocando pedra sobre pedra. Os dias não tinham fim e a muralha crescia devagar, devagarinho...
O rei não estava satisfeito com a situação e enviou, de novo, os seus soldados às aldeias para encontrarem mais gente para a grande empresa.
Todos os homens adultos que não conseguiram esconder-se foram levados à força para a grande construção. Com mais gente a trabalhar, esperava o Rei que a sua muralha pudesse avançar mais rapidamente.
Naquela época, numa pequena aldeia de China, uma velha, mais uma vez e como todos os anos, plantou abóboras na sua horta, pensando nas sopas deliciosas que iria saborear, no inverno seguinte. As plantas cresceram bem, mas, para sua surpresa, uma das aboboreiras, cresceu com a forma de uma serpente. Ágil e forte, a haste principal ficou repleta de folhagem e, rapidamente, passou por cima do muro de pedra que separava a sua horta da horta do seu velho vizinho. Este ficou a ver as abóboras amadurecerem na sua horta e, na altura certa, sem se importar com a origem da fortuna, decidiu colher a melhor das abóboras. Cortou a haste e abriu-lhe a casca forte, de cor alaranjada. Nesse momento, viu que uma linda jovem estava adormecida no seu interior. O velho ficou muito feliz, e contou este acontecimento aos vizinhos. Porém, a velha que plantou a abóbora entrou em conflito com o velho, exigindo que ele lhe entregasse a rapariga. A velha dizia:
 – Fui eu que plantei a abóbora, por isso ela é minha.
 O velho replicava:
 – A abóbora cresceu na minha horta, por isso é minha a rapariga. Eles brigaram três dias e não se viu nenhum resultado. Depois, os vizinhos ajudaram a resolver o assunto e os dois velhos decidiram que a jovem misteriosa pertenceria aos dois.
Como o tempo voa, a jovem chegou rapidamente à idade de casar. Os velhos escolheram-lhe um genro que era um rapaz simpático, bonito e diligente. E decidiu-se o dia do casamento.
Na noite de núpcias, depois dos rituais de casamento, a noiva estava sossegada no seu quarto e esperava ansiosa pela entrada do noivo. Estava muito bela. Envolviam-na as sedas vermelhas do seu vestido de noiva. A cabeça estava coberta pelo véu nupcial, que seria retirado quando o noivo entrasse no quarto. Quando ele chegou e abriu a porta do quarto devagarinho. Olhou para a sua maravilhosa mulher e imaginou que iriam ser muitos felizes. Aproximou-se dela e, delicadamente, começou a levantar o véu, emocionado com a alegria de descobrir a pureza do seu rosto.
Nesse preciso momento, um grupo de soldados invadiu o pequeno quarto. Capturaram o noivo indefeso. Ele não compreendia o que se passava e procurou resistir. Mas os soldados prenderam-no sem dificuldade. Na aflição, noiva pegou na mão do noivo e pediu aos soldados para não o capturarem. Caiam as lágrimas pelo belo rosto da noiva. Os duros corações dos soldados comoveram-se e também acharam que esta situação era lastimável. Mas não podiam dar ouvidos aos seus corações, não tinham poder, tinham de cumprir as ordens. E levaram o noivo cativo.
No dia seguinte, a noiva soube as razões desta captura inesperada. O Rei estava a construir uma muralha. Todos os homens adultos deviam ajudar. Os trabalhos não podiam parar e todos eram poucos. De noite e de dia, era preciso não parar e os que morriam eram logo substituídos por outros. A construção da muralha obrigava o Rei a enviar os seus soldados a todas as aldeias do reino para capturarem mais homens, sempre mais, sempre mais …
E passou mais de um ano. O noivo continuava sem voltar. A noiva, ansiosa, falou com os velhos e decidiu ir procurá-lo.
Antes da partida, ela preparou boas comidas, costurou um casaco novo para o noivo e meteu-se ao caminho. Onde seria a tal muralha? Ela não sabia mas, passo a passo, foi procurando o caminho que se desenrolava entre montes e vales.
Um ano, dois anos... No terceiro ano a noiva encontrou uma pequena aldeia e perguntou ao seu chefe:
                – Como é que posso ir para a muralha?
O chefe disse:
                – Desde aqui, sempre para sul. Se vais a pé, demorarás mais ou menos três meses.
                A noiva descansou apenas um minuto e seguiu viagem.
Passaram os três meses, rapidamente. Num certo dia, a rapariga avistou o que lhe pareceu uma grande serpente, mas era a grande construção, vista de longe. O seu coração sentiu uma grande tristeza. Continuou até encontrar alguém que conhecesse o seu jovem marido.
– Viste o meu noivo? Ele é...
A noiva contava como era o seu noivo.
                Um dia, um dos chefes da construção respondeu-lhe:
                – O seu noivo já morreu, há três anos.
                A noiva ouviu e pareceu não ter compreendido. Em silêncio, devagarinho... começou a chorar. Então, o céu ficou nublado e começou a chover. Uma enorme e estranha trovoada caía sobre a muralha. O chefe viu o que se estava a passar e foi a correr contar ao Rei. A tempestade não parava e o Rei foi ver o que estava a acontecer. A sua muralha estava a ser destruída. O Rei ficou muito zangado, porque eram as lágrimas da rapariga que estavam a provocar toda aquela desgraça. Mandou que fossem buscá-la e a trouxessem à sua presença. Porém, quando ele viu a beleza do rosto da jovem, mudou de opinião. Logo ali, quis que a jovem se tornasse sua rainha. Mas, para isso, a noiva requereu uma condição: que procurassem, primeiro, o corpo do noivo e se fizesse o seu funeral. O Rei aceitou.
              Depois do funeral, a noiva ficou a chorar três dias, em frente ao sepulcro do noivo. No quarto dia, ela fez outro pedido ao Rei. Queria subir ao ponto mais alto da muralha, lá onde ela mais se elevava sobre o abismo da montanha. O Rei, submisso à paixão que sentia pela rapariga, consentiu.
                E quando a viram despenhar-se lá do alto, todos souberam que a futura rainha tinha ido ao encontro do seu único noivo.                             

  Li Te, 8º Ano, PLNM

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