quinta-feira, 10 de janeiro de 2013


O vison e a sua proprietária

Atualmente, as mulheres têm muito poder e riqueza. Em breve, elas vão ter tudo. Basta apenas casarem uma vez e divorciarem-se, de seguida. Com este método, as mulheres podem ganhar metade dos bens do seu ex-marido. Isto é um processo lucrativo tão fácil e tão simples como tomar um pequeno-almoço! Algumas mulheres ambiciosas podem repetir este processo para obter enormes quantias de dinheiro. Para elas, isto é o custo do amor.
Cada vez mais, no mundo, a sociedade não consegue evitar o divórcio. Parece tão inevitável como a morte. Os homens trabalham muito para terem uma profissão melhor, para ganharem um salário sempre mais elevado. Onde estão os homens ricos e com uma boa profissão? Nada pertence a eles mesmos, está tudo nas mãos das suas mulheres ou das amantes! Roupas, malas, joias, etc.! Os homens devem trabalhar tão esforçadamente como escravos.
Na juventude, os homens, na maioria dos casos, têm mais do que uma mulher. Quando casam, poupam mais dinheiro em casa e com as despesas do que as mulheres, mas gastam bastante se tiverem uma `mulher fresca`, ou seja, se tiverem alguma relação extra matrimonial.
E eles próprios? Os homens não pensam em si mesmos quando são jovens. Com o passar dos anos, o cansaço vai-se acumulando, cada vez mais. Até que, um dia, depois de juventude passada, vão ficar surpreendidos quando chegarem à conclusão de que ainda não realizaram nenhum dos seus sonhos mais profundos. Olham para trás e tudo lhes parece uma perda de tempo.
Ao fim do dia, quando acabam os trabalhos, esgotados e com alguns remorsos, vão para o bar beber uns copos com os amigos. Enquanto bebem, contam algumas histórias sentimentais.
Essas histórias têm sempre como personagens um marido trabalhador, uma mulher pouco escrupulosa e uma amante sem caráter.
 
Hugo e Maria estão casados há mais de dez anos. Vivem numa zona nada espacial do Porto. Ele é dentista e tem um consultório no centro da cidade. Todos os dias, sai de manhã cedo e só chega a casa à noite.
A sua mulher, Maria, fica todos os dias sozinha a tratar da casa. Porém, uma vez por mês vai visitar a sua velha tia a Viseu, voltando só no dia seguinte. O marido compreende a dedicação da sua mulher e autoriza-a a fazer esta viagem todos os meses, mas o que ele não sabe é que a sua mulher, na verdade, vai ter com o seu amante!
- É melhor que não esperes que eu vá contigo - tinha dito Hugo, no início da combinação do encontro mensal.
- Claro que não, querido. Ela é a minha tia e não a tua! - foi a resposta de Maria.
Até aí, tudo bem.
De facto, a tia era um álibi conveniente para Maria.
O amante tem, por norma, mais riqueza e poder. Uma casa simpática e bonita nos arredores. Ele não tem mulher, só uma governanta e umas empregadas fiéis.       Embora ela só saia de casa uma vez por mês, ela esforça-se para que esse tempo seja bem aproveitado.
Os anos sucedem-se. A aliança agradável entre Maria e o seu amante continuou sem problemas. Doze vezes por ano, não é muito para o encontro deles. Como não é possível ter tempo nem pensar mais do que o necessário, nunca sentiram tédio nesses encontros temporários nem se alterou o amor, entre eles. Pelo contrário, ao longo do tempo, a espera entre os encontros só fez com que o coração se afeiçoasse mais e, de cada vez, a separação tornou o encontro mais emocionante.
Cinco anos passaram. No dia antes do Natal, Maria estava parada na estação, em Viseu, esperando o comboio de regresso ao Porto. Esta visita tinha sido particularmente agradável! Com o seu amante, ela sentia que tinha valor, que era uma mulher brilhante. Mas em sua casa, com o seu marido, sempre se sentia como se fosse uma simples paciente.
- O Senhor Fábio pediu-me para dar-lhe isso. - a voz, ao lado dela, era da governanta do seu amante. Quando Maria se virou, viu que ele lhe mandara uma grande caixa, um presente que recebeu de braços abertos.
- Ó meu Deus! - Chorou. - Uma caixa enorme! O que terá dentro? Haverá uma mensagem? Será que ele me mandar uma mensagem? - Perguntou.
- Não. - A governanta afastou-se.
Ela entrou no comboio e foi o WC das mulheres com a sua caixa. Fechou a porta. Era um momento emocionante! Um presente do Natal oferecido por Fábio! Começou a pensar no que existiria dentro da caixa que agora estava nas suas mãos.
Imaginou que esta caixa teria uma peça de roupa, alguma coisa muito bonita! Envolta em imaginação, a caixa pareceu-lhe uma caixinha mágica. Fechou os olhos com força e levantou a tampa, lentamente. Colocou uma das mãos no interior e sentiu: havia um envelope em cima de um casaco de pele de vison! Um casaco tão bonito e tão caro!
- O Fábio quererá casar comigo? - Pensou ela. Abriu o envelope, com muita curiosidade.
 
Uma vez, ouvi-te dizer que gostavas de vison. Por isso, pensei nisto. Disseram-me que é de muito boa qualidade. Por favor, aceita-o, com os meus sinceros votos de felicidades, como um presente de despedida. Por razões pessoais, não é possível explicar-te mais nada. Adeus e boa sorte.
PS. Basta dizeres-lhe que a tia foi muito generosa, neste Natal!
 
- Não! - Voltou a chorar. A realidade estava toda ao contrário. Fábio acabou com ela, este era o último presente que lhe oferecia!
Maria chorou muito, mas era uma mulher madura. Limpou as lágrimas da cara e começou a pensar numa solução para poder levar o casaco para casa, porque o seu marido não era burro. Claro que não poderia dizer-lhe que tinha sido uma oferta da tia!
 - O homem deve estar louco! - Disse ela. - A minha tia não tem tanto dinheiro. Não poderia oferecer-me isto!
Então quem teria sido?
Duas horas mais tarde, ia encontra-se com o marido, em casa! E não poderia levar o casaco com ela!
Maria disse em voz alta:
- Eu tenho que ficar com este casaco! Eu tenho que ficar com este casaco!
Muito bem, minha querida. Quer ter o casaco! Mas não entre em pânico! Sente-se imóvel, mantenha a calma e comece a pensar. É uma menina inteligente, não é? Já o enganou antes. O homem nunca foi capaz de ver muito mais do que os objetivos das suas próprias investigações, sabe disso. Então, basta sentar-se absolutamente imóvel e pensar. Tem ainda muito tempo!
Duas horas depois, o comboio chegou à estação do Porto. Ela desceu do comboio e caminhou rapidamente para a saída. Continuava a usar o seu velho casaco e levava a caixa com o belo vison debaixo do braço. Na paragem, chamou um táxi.
- Boa tarde. - Entrou no táxi. - Sabe onde posso encontrar uma casa de penhores que ainda esteja aberta, por aqui?
- Sei, sim senhora. Na rua à esquerda, no próximo cruzamento. - Respondeu o taxista, depois de ter olhado para a mulher, com atenção.
- Então, leve-me lá, por favor. - Pediu ela, arrumando bem o casaco.
O taxista parou o carro em frente de uma casa de penhores que tinha duas lanternas vermelhas penduradas na porta.
- Espere por mim, por favor. - Disse Maria ao taxista. Abriu a porta do carro e entrou na loja.
A loja estava mergulhada em silêncio e Maria não viu patrão nem empregado. Finalmente, o patrão lá apareceu, ao fundo da loja, vindo de um sítio escuro, enquanto Maria observava uma quantidade de coisas fantásticas que outras pessoas tinham trocado por dinheiro.
- Posso ajudar? - Inquiriu o patrão.
- Eu perdi a minha carteira. Como hoje é sábado, os bancos estão todos fechados até segunda-feira, e eu preciso de ter algum dinheiro para o fim de semana. Aqui, tenho um casaco novo e valioso, mas não lhe vou pedir muito. Só quero o suficiente para o necessário destes dias. Talvez, por volta de 50 euros. Na segunda-feira, volto para o resgatar.
O homem não falou até Maria mostrar o casaco. Depois, surpreendido, olhou-a com olhos enormes.
- Este casaco é novíssimo e é de pele verdadeira! - o patrão parecia estar a avisá-la.
- Claro que sim, eu sei. Mas como não tenho um relógio ou um anel valioso…
O homem concordou com ela, tirou um papel e começou a escrever. Pediu-lhe as informações necessárias sobre a identificação do proprietário. Mas Maria quis que o ticket ficasse todo em branco, apenas com o registo do valor que iria receber pela penhora.
O patrão levantou a cabeça, olhou para ela, voltou a escrever e disse:
- Sim, pode ser. Mas se perder o talão, não temos a responsabilidade de lhe devolver a si mesma o casaco, qualquer pessoa o poderá reclamar.
Ela não queria saber nem pensar e concordou com o homem. Recebeu 50 euros e o talão do casaco. Saiu para fora e voltou para casa, de táxi.
 
Ao fim do dia, o seu marido tinha terminado os trabalhos no consultório e chegou a casa. Antes de jantar, enquanto Maria preparava a mesa para a refeição, ele falou-lhe como se fosse um marido feliz.
- Sabes que tive sorte, hoje! Cheguei a casa de táxi e dentro do táxi encontrei um talão de uma casa de penhores. Não está escrito quem é o proprietário, está apenas o valor de 50 euros. - Comentou o médico.
- A sério? Então podes ir lá levantar o objeto penhorado? Onde é? - Hugo ia lendo o jornal e não respondeu, distraído.
- É perto de tua clínica! No início da rua. - Acrescentou ela, pegando no talão.
- Pronto, descansa, eu vou lá trocar isso, na segunda-feira. - e Hugo terminou a conversa.
 
Na segunda-feira seguinte, Hugo beijou a mulher e pôs-se a caminho da clínica, com o talão.
Maria só acordou mais tarde. Fingindo-se muita curiosa, telefonou ao marido e perguntou-lhe:
- Então? Já sabes o que é?
- Tens sempre sorte! É uma coisa para mulher! - Do outro lado do telefone, escutou-se a voz dela.
- Tu sabes! Eu tenho sempre boa sorte! Quero ver o que é, já! Tens tempo para almoçares comigo? Vou passar pela tua clínica!
- Sim, pode ser à uma da tarde. - Respondeu Hugo.
- Então, até logo!
Esta menina! Pensava que o casaco iria voltar a cair-lhe nos braços, depois de tantas dificuldades. A sua felicidade era enorme! Vestiu-se com elegância e esmerou-se na maquiagem para ficar perfeita, depois de vestir o seu valioso casaco.
Saiu muito cedo para fazer o caminho a pé, procurando controlar o medo de chegar atrasada, o medo que o casaco fugisse se ela não estivesse lá a tempo.
Quando entrou na clínica, bateu à porta do escritório do seu marido.
- Onde está a minha prenda!? - Hugo ainda não tinha olhado para ela, mas a voz dela já ecoava na sala. O marido levantou-se da cadeira, pediu-lhe que se virasse para atrás e fechasse os olhos.
Maria ficou muito excitada e levantou os braços, perpendicularmente ao corpo, porque ela sabia que ia ser vestida, de seguida. Mas o que tocou na sua pele, apenas roçou o pescoço. Começou a sentir dúvidas. Como? Ela abriu os olhos e viu apenas o cachecol que fazia conjunto com o casaco, também ele feito de pele de vison.
Então?
Maria começou a pensar. O que se passava? A sua primeira conclusão foi: como o talão não tinha nenhuma informação, o patrão da loja tinha-a enganado.
De imediato, ela disse ao marido:
- É bonito! Mas quero ir à casa de banho, quero compor bem o cachecol. Só um momento!
Saiu do escritório. Andou muito depressa. Onde ela passava tudo parecia estar congelado mas podia ver-se o fogo que lhe atravessava os olhos. Telefonou para a casa de penhores. O padrão confirmou-lhe que, em troca do talão, tinha devolvido o belo casaco, tudo completo, a um homem com cerca de 35 anos.
Quando ela recebeu esta confirmação, deixou de compreender o que se tinha passado. As dúvidas persistiram no caminho de voltar para o gabinete do marido. Porém, a certa altura, deteve-se, deixando cair ao chão o telemóvel que ainda guardava na mão. Surpreendida, viu que o seu casaco já tinha uma nova proprietária – a secretária do dentista Hugo.
 
Hu Jun, nº15, 11ºA1 PLNM

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